O Clube da Luta foi dirigido pelo David Fincher e teve como roteirista Jim Uhls, porém é baseado no livro de Chuck Palahniuk, um escritor americano que vem sendo cultuado na atual leva de escritores da literatura underground norte-americana. Então, a história tem como ponto central um investigador de seguros (Edward Norton), sem nome, que sofre de insônia e cansaço por causa de suas inúmeras viagens. Certa vez, em um de seus vôos, conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um cara que é tudo que o investigador não é: divertido, vivaz, aventureiro, bacana, corajoso, etc. Após uma inesperada explosão em seu apartamento, vai morar com seu novo amigo, e juntos acabam fundando um clube de luta, onde os homens põe suas insatisfações pra fora brigando entre si. Em pouco tempo esse clube acaba crescendo e ganhando incontáveis adeptos, e assim, fugindo do controle de seu criador.
Há muitas coisas que se pode tirar dessa película para comentar, tanto análises técnicas quanto literárias. Mas o que quero comentar aqui é um determinado ponto, que talvez seja um dos mais importantes, pois é uma das principais razões que faz parte dos argumentos de quem o rejeita. Muitos dizem que é, e realmente é, um filme violento. Mas não violento, muuuuito violento. Cru. Li uma crítica uma vez que dizia que Clube da Luta não passava de um filme sonolento com caras se quebrando. Um grande equívoco.
Algo que deve ser salientado é que o objetivo do clube não é bater, e sim apanhar. Toda a violência que se passa na obra não passa de uma metáfora, as lutas seriam um artifício das personagens para provar para si mesmas que ainda possuem sangue em suas veias. O objetivo do clube é justamente poder sentir algo, sentir-se vivo, criar cicatrizes. Ao apanhar, a personagem principal, descobre que aquilo que julgava essencial não era primordial em sua vida. Descobriu que vivia pelo consumismo, pela futilidade. Que era um produto da massa (por isso não possuir um nome?). Tyler deixa muito claro essa idéia ao afirmar que “As coisas que você possui acabam possuindo você”. As personagens cansaram disso, cansaram de serem unidades de um todo. Elas querem sentir “que não são apenas “o dinheiro que têm no banco ou as roupas que vestem”, mas seres humanos de verdade. O objetivo de Tyler é esse acordar. É preciso aceitar a dor, e não sempre tentar evitá-la. Em outras palavras, aceitar a vida, com todas as suas dificuldades, e não ter medo de encará-la de frente.”
Agora o que vou dizer aqui é super piegas e contraditório, visto o que tento “criticar” no meu primeiro parágrafo. O que quero saber é por que ao invés de apagar todos os erros, burradas e desilusões desse ano que passou (e de todos os outros) não os guardamos dentro de nós? Por que não tatuamos todos eles em nossa pele como uma cicatriz? Por que devemos apagar todo o passado para tentar seguir em frente com um novo começo? Pra mim essa história de um “novo começar”, um “novo caminho”, já não existe mais. Pra mim agora o que existe é uma continuação, uma evolução do ser humano. Assim como no Clube da Luta, precisamos chegar no fundo do poço, na pior situação possível para termos certeza do que somos, do que podemos chegar a ser.
Por que cantar “adeus ano velho, feliz ano novo” se tudo o que nos faz são os anos velhos em que vivemos? Por fim, para continuar na sessão “fim de ano”, digo que não importa se as pessoas consomem mais do que rezam em volta do presépio, não importa também o tamanho do chester ou da champagne que consumiremos no Reveillon. Importa muito mais pensar que nada foi em vão. Que todos os clubes de luta que participamos nos deixaram incrivelmente destruídos. E que ficaremos ainda mais depois dos diversos “duelos” que ainda temos pela frente. E pra terminar mais clichê que o tema desse post:
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Mar Português, Fernando Pessoa)