segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

No clube da luta


Este poderia ser mais um post sobre festas de fim de ano e sobre as costumeiras reflexões existenciais que sempre fazemos durante a passagem de mais 365 dias, porém esse tema já está mais do que usado em nossos 2000 e poucos anos de celebrações. Este (post) também poderia ser mais uma crítica de cinema, mas também não se encaixa exatamente no perfil, então tentarei aqui, unir esses dois temas (por mais bizarro que pareça) para celebrar mais um final de ano em nossas vidinhas queridas.
Faz alguns dias, vi um filme que há muito tempo vinha me sendo uma incógnita, e por causa disso, sempre tive receio de assisti-lo. O Clube da Luta. Muitos o recomendaram, alguns o apedrejaram. Mas sei lá, nessas últimas semanas do ano, ele me caiu em um bom momento, visto que minha mente estava completamente em branco. Eu precisava de alguma coisa que me tirasse da situação em que estava, apesar de aparentemente não me ser incômoda. Precisava de um soco no estômago, precisava de um despertador soando alto em meus ouvidos. E foi isso o que senti após assistir o filme.
O Clube da Luta foi dirigido pelo David Fincher e teve como roteirista Jim Uhls, porém é baseado no livro de Chuck Palahniuk, um escritor americano que vem sendo cultuado na atual leva de escritores da literatura underground norte-americana. Então, a história tem como ponto central um investigador de seguros (Edward Norton), sem nome, que sofre de insônia e cansaço por causa de suas inúmeras viagens. Certa vez, em um de seus vôos, conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um cara que é tudo que o investigador não é: divertido, vivaz, aventureiro, bacana, corajoso, etc. Após uma inesperada explosão em seu apartamento, vai morar com seu novo amigo, e juntos acabam fundando um clube de luta, onde os homens põe suas insatisfações pra fora brigando entre si. Em pouco tempo esse clube acaba crescendo e ganhando incontáveis adeptos, e assim, fugindo do controle de seu criador.
Há muitas coisas que se pode tirar dessa película para comentar, tanto análises técnicas quanto literárias. Mas o que quero comentar aqui é um determinado ponto, que talvez seja um dos mais importantes, pois é uma das principais razões que faz parte dos argumentos de quem o rejeita. Muitos dizem que é, e realmente é, um filme violento. Mas não violento, muuuuito violento. Cru. Li uma crítica uma vez que dizia que Clube da Luta não passava de um filme sonolento com caras se quebrando. Um grande equívoco.
Algo que deve ser salientado é que o objetivo do clube não é bater, e sim apanhar. Toda a violência que se passa na obra não passa de uma metáfora, as lutas seriam um artifício das personagens para provar para si mesmas que ainda possuem sangue em suas veias. O objetivo do clube é justamente poder sentir algo, sentir-se vivo, criar cicatrizes. Ao apanhar, a personagem principal, descobre que aquilo que julgava essencial não era primordial em sua vida. Descobriu que vivia pelo consumismo, pela futilidade. Que era um produto da massa (por isso não possuir um nome?). Tyler deixa muito claro essa idéia ao afirmar que “As coisas que você possui acabam possuindo você”. As personagens cansaram disso, cansaram de serem unidades de um todo. Elas querem sentir “que não são apenas “o dinheiro que têm no banco ou as roupas que vestem”, mas seres humanos de verdade. O objetivo de Tyler é esse acordar. É preciso aceitar a dor, e não sempre tentar evitá-la. Em outras palavras, aceitar a vida, com todas as suas dificuldades, e não ter medo de encará-la de frente.”
Agora o que vou dizer aqui é super piegas e contraditório, visto o que tento “criticar” no meu primeiro parágrafo. O que quero saber é por que ao invés de apagar todos os erros, burradas e desilusões desse ano que passou (e de todos os outros) não os guardamos dentro de nós? Por que não tatuamos todos eles em nossa pele como uma cicatriz? Por que devemos apagar todo o passado para tentar seguir em frente com um novo começo? Pra mim essa história de um “novo começar”, um “novo caminho”, já não existe mais. Pra mim agora o que existe é uma continuação, uma evolução do ser humano. Assim como no Clube da Luta, precisamos chegar no fundo do poço, na pior situação possível para termos certeza do que somos, do que podemos chegar a ser.
Por que cantar “adeus ano velho, feliz ano novo” se tudo o que nos faz são os anos velhos em que vivemos? Por fim, para continuar na sessão “fim de ano”, digo que não importa se as pessoas consomem mais do que rezam em volta do presépio, não importa também o tamanho do chester ou da champagne que consumiremos no Reveillon. Importa muito mais pensar que nada foi em vão. Que todos os clubes de luta que participamos nos deixaram incrivelmente destruídos. E que ficaremos ainda mais depois dos diversos “duelos” que ainda temos pela frente. E pra terminar mais clichê que o tema desse post:

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

(Mar Português, Fernando Pessoa)


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

So Yesterday

Olho no espelho, não vejo a mesma pessoa! Sim vejo, mas com algumas modificações... Não quero que fique tarde demais para mim, como já ficou para muitos! Não quero cair na loucura, na insanidade, na rivalidade própria, na pretensão de não querer ser feliz!
Penso agora em coisas que combinem comigo. Penso no Sol, que agora é meu maior companheiro, apesar de sempre continuar preferindo a luz do luar! Adoro esse sorriso bobo que dou na frente do espelho. Admiro meus olhos verdes brilhando, depois de um curtíssimo tempo derramando lágrimas... Essas que serviram como colírio para mim, pois no fim tudo sempre vale a pena e tem um valor!
Adoro essas linhas tortas que escrevo agora, sem maiores reflexões sobre o mundo, as dores, ou a eterna questão do “ser/estar” no mundo. Escrevo agora, pois me olho e vejo que não é tarde demais para mim, então escrevo sobre sorrisos e busco estrelas no céu!
“ I'm just a bird thats already flown away.”

domingo, 6 de dezembro de 2009

Observar e Avançar

Eu caminhava olhando para o chão, não conseguia observar com nitidez o que havia na minha frente. Notava apenas que o dia estava nublado, percebia isso pela falta de raios solares batendo em meu rosto. O meu caminhar continuava, em passos curtos de uma pressa rápida. O chão era o que eu observava nesse meu trilhar. Ele era sujo, em cinza escuro, uma cor ríspida, feia. Em alguns momentos tentei erguer meu pescoço e encarar um pouco a multidão que passava, mas os rostos me pareciam doloridos demais. Com esse rumo eu já sabia onde ia chegar, mas preferia não saber.

Continuei na perambulação, até que tive uma súbita coragem e olhei pra frente. Observei árvores florindo, flores brotando, típico da primavera. Mas em meus pensamentos estávamos no frio inverno. A brisa começou a encostar no meu rosto...Ah! Que bela sensação, a quanto tempo não a sentia. Os carros passavam ao meu lado num vai e vem sem parar. Eles eram de todas as cores: brancos, pratas, pretos, verdes, azuis, amarelos, cinzas, vermelhos...vermelho de amor, de coração pulsando, de sangue correndo nas veias...era o que eu queria sentir novamente!

Apesar de toda a dor que estava sentindo meu pescoço continuou erguido e na minha frente vejo uma bela senhorita. Cabelos loiros, pele branca, olhos castanhos, linda. A quanto tempo não via uma mulher bonita como essa, ou melhor, a quanto tempo não via uma mulher. Veio de dentro, do meu âmago, um desejo de tê-la em meus braços, de sentir a pele dos seus lábios. Sua boca era linda, bem esculpida, até cheguei a pensar que ela havia sido moldada por alguém. Talvez ela seja uma escultura que passou a viver, ou um quadro em que foi soprado o fôlego de vida. Mas ela passou, já está pra trás e não consegui virar meu pescoço para chamá-la.

Então minha caminhada continua sozinha, e meu pescoço cansa, volto a olhar para meus pés. Uso um all star preto, meio encardido, mas é o meu preferido. Agora o chão parece mais limpo, mais claro, ou será minha vista que está mais nítida? De repente vejo um all star verde ao lado do meu tênis escuro, olho para o lado e recebo um sorriso, parece que encontrei alguém para caminhar ao meu lado. O rapaz diz para mim: “Também está observando os carros, as pessoas, as árvores e as flores?” Eu respondo: “Sim!”. E ele passa a me acompanhar. Uma grande amizade surge, e começamos a observar mais coisas juntos, começo a olhar mais para as pessoas e sorrir para elas. Comecei a notar que o sol começava a deixar seus raios chegarem em meu rosto, e eu o respondia com um grande sorriso. Olhei para o lado e ele disse para mim: “O verão está chegando e nossa viagem continua!”

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Viagem

Eis a minh'alma, as asas palpitando

Como a saudade de agitado lenço

O segredo dos longes procurando...”

(Cruz e Souza, Asas Abertas)


Ontem li, como de costume, trechos de alguns textos antes de ir dormir. Gosto de alguém me contando algo, ensinando algo, ou apenas expressando algo, para que assim, eu possa esquecer meus problemas habituais e velejar descansadamente no meu sono apressado.

Quando não leio nada, acabo tendo infinitas discussões dentro de mim ao deitar minha cabeça no travesseiro. Já quando leio, não sei, mas tenho a impressão de sempre ter uma conversa franca, um desabafo que me extrai todo peso de um dia (não?) cumprido.

Bom, tendo liberado todas as minhas energias, pousei minha cabeça no lençol frio de minha cama. De olhos fechados, escutando apenas o silêncio de meu quarto, lembrei de como era bom não ouvir absolutamente nada. Quero dizer, quando jovem, costumava ir à praia sozinha. Apenas eu e meus pensamentos. Mas, quando eu pisava naquela areia úmida, nem eles ousavam soltar um gemido sequer.

A palavra praia nunca me agradou. Sempre me remeteu à um dia de domingo. À um sol de rachar e cem pessoas, no mínimo, tentando ocupar um mesmo espaço. Espaço este “projetado” somente para 60 pessoas. Bom, creio que meu lado misantropo sempre foi avesso à esse tipo de situação. Mas houve um dia. Sempre há um dia.

Logo depois de me mudar, a minha primeira vez, descobri algo que me fascina até hoje. Nunca tinha sequer imaginado que a praia seria, um dia, um refúgio para minha alma fugitiva.

Era final de tarde. Havia pequenos resquícios de sol no céu azul-acizentado. Não falei com ninguém, não queria falar. Apenas peguei uma garrafa d'água e meus olhos perguntaram para meu gato se queria me acompanhar. Este apenas me olhou com fadiga e voltou a fazer o que mais sabia. Dormir.

Comecei a andar. Minhas pernas não tinham rumo, mas minha cabeça sabia muito bem aonde queria ir. Ficava pensando em quantas pessoas já fizeram esse mesmo caminho antes de mim. Quantas pessoas já andaram por essa mesma rua de areia vermelha, com pedregulhos irritantes. Até hoje meus pés praguejam aquelas pedras. Porém meus olhos agradecem, por nunca terem esquecido aquele verde que fotografavam enquanto caminhavam naquela rua.

Enquanto andava, percebia a mudança e a troca de ambientes. Primeiro casas, mato, pássaros, canto, areia, asfalto, postes, pessoas. Ao sair da minha rua, sempre dava de cara com um boteco. O cheiro do álcool e os gritos faziam meu estômago girar. Tinha também o restaurante/mercearia ao lado. A senhora que ficava naquele caixa sempre me assustou profundamente, apesar do sorriso sincero de simpatia.

Atravessei a rua e olhei de esguelha para uma enorme casa cor de abóbora. Lá moravam umas 13 ou 15 pessoas. E não eram da mesma família. Nunca entendi como aquilo funcionava, mas sempre quando passava pela frente daquela casa, ouvia os berros de uma mulher. Acho que era a dona da casa. Ou alguém sempre a atormentava, ou ela apenas gostava de falar alto. Meu estômago girava mais uma vez. Sempre agradeci por não morar naquele lugar.

Passando por muitas outras residências e vozes, cheguei no começo. Avistei uma pequena capela, e alguns bancos brancos em sua frente. Lá, estava um senhor sentado, rodeado por algumas mulheres e crianças. Ele falava, mas ninguém parecia se importar. Quando me aproximei, ele me olhou e apontou para um alto pilar de madeira à nossa frente.

Esse pau foi erguido faz mais de 50 anos. Quando eu chegava perto dele, me sentia como uma formiga. Sorri para ele, porém não entendi o que disse depois. Apenas concordei. As pessoas que o acompanhavam me olhavam incrédulas. Não entendi o porquê. Me despedi daquele senhor com um tapinha em seu ombro. Nem olhei para os outros. Não me simpatizei com nenhum.

Seguindo meu caminho, avistei um cemitério. Mas decididamente aquele lugar não me parecia um cemitério, pelo menos a idéia. Havia árvores ao seu redor. Árvores, mato. Já conseguia sentir o cheiro do mar. Decidi que quero que me plantem aqui no futuro.

Andei por mais uns 10 minutos numa estreita estradinha de terra, e como o esperado, já não ouvia mais nada. Nem o som dos carros, em a voz do senhor da capela, nem as crianças brincando, nem os berros da mulher da casa grande. Finalmente cheguei àquela areia branca. Nesse horário ela estava muito mais fina e branca que o de costume. Tirei meus tênis e comecei a caminhar lentamente.

Não havia ninguém lá. Fui até a água e molhei meus pés transparentes. Nunca gostei tanto de um lugar como daquele. Respirei, o cheiro e o estranho vazio que senti dentro de mim me agradavam explendidamente.

Procurei um lugar para repousar. Deitei-me logo, visto que não precisei perder muito tempo com minha busca. De olhos fechados, tentei ouvir alguma coisa, mas só conseguia ouvir o barulho das ondas chegando de leve, à praia.

Pensei no quando somos simples enquanto sozinhos. O quanto somos puros. Pensei no quanto somos verdadeiros diante da solidão. Palavra esta que sempre me causou temor. Mas com o passar do tempo acho que esse é um dos momentos em que mais vivi.

A praia, a areia, o mar, o cheiro, a solidão e o silêncio. O silêncio! Uma vez li que o silêncio murmura palavras perturbantes como um afago. Suspirei.

Mon silence est ma force! No meu quarto, olhava para o teto. Plano, cor do creme hidratante da minha mãe. Mas o que vi lá não era nem meu quarto, nem o creme. Mas sim o céu daquela noite em que estavam eu e meu silêncio. Não vi, senti. Pela primeira vez saciei minha sede. Infinito.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Vida real cinematográfica.

Acabei de ouvir a seguinte frase: “Toda história tem um final feliz”. E não sei o motivo, mas não consigo desacreditar dessa sentença. É algo que continua arraigado a mim, não sei se em virtude do meu espírito sonhador, das tantas novelas que acompanhei, dos filmes românticos que assisti e persisto em assistir.

Penso até que nossa vida pode ter vários finais felizes, é só escolhermos onde acaba e onde se inicia uma nova jornada, ou melhor, a parte dois do filme; onde novas tribulações e problemas surgirão, mas o final será alegre novamente. Já tive alguns finais felizes em minha vida, algumas trilhas sonoras, alguns sorrisos, alguns abraços, alguns beijos de fim de filme! Agora estou novamente iniciando uma continuação, ou será que estou no final feliz? É, me lembro de algumas histórias onde o fim não significava estar acompanhado, mas era feliz!

Eu quero mais é curtir minha vida, vivê-la sem medo, pois não sei o dia de amanhã. Quem sabe a minha série nem está mais fazendo sucesso e sou pego de súbito por um cancelamento. Não, com certeza não é esse meu desejo, então não vou deixar meus medos e tristezas me impedirem de curtir e viver meus momentos! O filme continua, o verão também, os amores também. E vários filmes românticos estão me esperando, prontos para serem assistidos! Com certeza posso e me iludo muito mais pensando assim, mas também curto mais, aproveito mais cada momento, cada amor, cada amigo, cada pessoa, cada esperança que a vida me dá! E faço minhas as palavras da jornalista Angélica Bito, em uma critica sobre um filme romântico: ” Sempre que vejo um filme de amor – desses irreais, com finais felizes que desafiam a inteligência da maioria dos espectadores -, penso que é também por causa desse tipo de cinema que ainda sofro por causa de relacionamentos... a gente sofre, mas supera e segue em frente.”

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Para cima


"No meu quarto uma luz luz com lumes amenos,
Chora o vento lá fora, à flor dos flóreos fenos..."

Como no outro, havia um banco. Havia um rio, e a imagem de Heráclito continuava lá.
Virei para o lado e não me reconheci. Cenas passadas que nunca aconteceram.
"Levante-se, há o que fazer.” Virei para o outro lado. Quem é você afinal?“Vá, é aqui perto.”
Litoral. O vento soprava e vi as folhas balançarem. Vi?
O sol está forte. Havia cristais na água.
Talvez não, era aquela estrela brilhando lá dentro... Não, é dia!
Virei. Que lugar é esse? Não o reconheço. Ar nunca respirado. Objetos nunca vistos. Quem são vocês?
"Venha, entre aqui.” Me olhou suavemente. Não, obrigada.
Abri meus olhos, mas estavam fechados.
Meu corpo não se move e meu pulmão grita. Eu grito. Mas não há som, não há voz nem oxigênio.Abri meus olhos mais uma vez.
Branco. Pêssego. Plano.

sábado, 14 de novembro de 2009

Insistente Visitante

Ele insiste em me visitar, mesmo eu já tendo deixado claro que não gosto de sua visita. Noto que ele não faz isso só comigo, ele visita a maioria das pessoas. Visita-me geralmente aos domingos, mas às vezes ele passa também durante a semana. Ele me faz lembrar de coisas que eu quero esquecer. Faz-me lembrar de pessoas que não lembro mais. Ele me faz achar que minha vida é um nada, que estou sozinho e perdido no mundo. Faz-me pensar em coisas sobre as quais eu não deveria jamais pensar. Ele me traz o aborrecimento e o desgosto. Traz-me a vontade de dormir, mas também a insônia. não quer que eu sonhe; mas insiste que eu passe a vida dormindo, num sono sem sonhos. Quando ele está aqui não tenho vontade de fazer nada, mas tenho muita vontade de fazer algo que não sei o que é. Ele me faz perder as esperanças de que, um dia, Godot finalmente irá chegar. Ele quer que eu antecipe meu final feliz. Ele é o grande assassino de jovens e adolescentes.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Passageiro

Fim de tarde. Ônibus. Pessoas. Situações.
Essas coisas, creio que não seja só comigo, me fazem parar pra pensar. Viajar na maionese mesmo. Não sei, mas meus textos, muitas vezes esquecidos, sempre me surgem não só antes de dormir, como também no trânsito ou simplesmente lavando a louça.
Enfim, nessa tarde citada acima, eu estava no terminal, dentro do ônibus, esperando dar a hora de sair. Lá, observava (discretamente, acho) as pessoas que entravam no automóvel. Não vou entrar em detalhes pois acredito que não sou só eu que faço isso, assim como tantas vezes indagamos “qual o sentido da vida” ou “por que estou aqui”. Questionamentos interiores relutantemente inúteis.
Acho que não comentei ainda, mas não gosto muito de pessoas. Gosto, obviamente. Só que não são poucas as que me irritam, visto o que elas têm se tornado com o passar do tempo. Partindo disso, comecei a pensar em mim. E partindo de mim, comecei a pensar em sentimentos. E de todos os sentimentos que analisei naqueles 15 ou 20 minutos dentro daquele ônibus, quero ressaltar aqui o amor.
Outra coisa que me irrita é o amor. Só a palavra soa estranha pra mim, ora piegas, ora brega. Estranha, de fato. Outra coisa. Nunca consigo relacionar o “estar apaixonado” com o “estar amando”. Já me apaixonei? Sim, ou não. Já amei? Sim. Ou não! Sei lá. Prefiro pensar que nunca amei e que um dia vai aparecer alguém com o formato da moldura que criei na minha cabeça. Mas sei lá, isso me parece egoísta demais. Tá vendo como é estranho? Não sei se o que convém seja a metade da laranja, a alma gêmea, ou o oposto. O pólo positivo para o meu negativo.
É. Triste. Depois de ficar relembrando e quebrando a cabeça sobre minha vida amorosa, decidi mudar (!). Decidi esquecer todos os meus affairs e as antigas paixonites que poderiam ter virado amor, caso eu não fosse tão “eu”, e partir para uma nova era.
Mas então. A minha mudança. Decidi me exilar. Acabar com essa mania complexa e irritante de viver e se relacionar, sempre com aquela palavrinha chata soando na cabeça. Amor, amor, amor... Urg.
Pensei em estudar, me formar, e estudar outra vez. Depois disso, viajar, conhecer lugares e pessoas. Mudar-me para uma cidade calma, perto da praia, se possível. Terminar a vida assistindo a bons filmes, lendo bons livros, bebendo bons vinhos e criando gatos. Tenho um vizinho que creio que fez isso. E, às vezes, o invejo.
Bom, depois de tomar tantas decisões, decidi parar de decidir. Não sei, mas odeio pensar, pensar, e chegar numa conclusão que no fundo não conclui porcaria alguma. Olhei pela janela e vi os outros ônibus estacionados ao lado do meu. Um deles sorriu pra mim.
Voltei a lembrar dos meus amores perdidos e dos aleatórios. Lembrei do vinho, do meu vizinho e dos gatos. Ah, viver em exílio sempre me pareceu tão charmoso. Mas a solidão é outra coisa que acaba me irritando. Lembrei, também, de um poema que adoro.
Finalmente chegou a hora. Meu ônibus começou a andar lentamente para me levar de volta à vida. Dei outra olhada para fora e vi o outro, ainda, a sorrir.

“E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...”
(Amar!, Florbela Espanca)

domingo, 8 de novembro de 2009

Da Brodway para a telona


O grupo musical Abba vendeu mais de 350 milhões de discos nos anos 70 e assim marcou toda uma geração. O mesmo sucesso teve o espetáculo musical Mamma Mia! , baseado nas canções do grupo. A diretora Phyllida Lloyd, também diretora do espetáculo, levou para as telas esse contagiante musical.

A história é simples, alegre e improvável, se passa na Grécia onde Donna ( a sempre ótima Meryl Streep) é proprietária de uma pousada e está nos preparativos do casamento de sua filha que criou sozinha. Sua filha convida três antigos namorados de sua mãe para a cerimônia, acreditando que um deles seja seu pai: Sam, Bill e Harry ( respectivamente Piece Brosnan, Stellan Skangard e Colin Firth). Eles desembarcam na ilha juntos e assim começam os encontros e desencontros que agitam a trama, que fala sobre amor na meia-idade e relação entre mãe e filha sempre embaladas com grandes sucessos do “Abba”, como Dancing Queen, Tanke a Chance on Me, I Have a Dream, entre outros. O filme resgata essas canções que embalaram uma geração com apresentações alegres e muitas vezes emocionantes, e traz um frescor de alegria contagiante.

A recordista de indicações ao Oscar, Meryl Streep, arrasa mais uma vez, só que desta vez com um papel bem mais leve e jovial do que os seus outros grandes papéis, como a chefe durona de O Diabo Veste Prada. Também temos Piece Brosnan, que com certeza fica muito melhor como 007 do que cantando e dançando, mas isso é apenas um detalhe para um filme que emociona, contagia, alegra e faz cantar e dançar!




P.S.: Resenha escrita já faz alguns meses para a disciplina de Produção Textual Acadêmica do curso de Letras - Língua Portuguesa e Literatura. Decidi posta-la para continuar no ritmo dos musicais, visto que meu último post foi sobre Glee.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O relógio

Ele era um relógio. Um relógio grande, marrom. Os detalhes eram dourados. Grandes números e setas pequenas. Deveria ter mais de 200 anos. Velho? Não sei, sei que poucos gostariam de tê-lo, mas foi recomprado por muitos. Também isso pouco importava, pois um relógio daqueles não valia muito em um mundo “retrô”. Contraditório? Talvez, mas aquela velha peça não bastava para sua parede.

Deve ter sido montado em meados dos anos 60. Ou 70. Também não importa mais. O que importa é que os 200 anos são a soma das idades de todos os que já o possuíram. Hoje, esse relógio não é mais relógio. Ele é apenas setas. Pequenas setas, sem números. Girando lentamente, pensando em um dia parar e esquecer tudo o que já não viu.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Glee: Os ambiciosos perdedores dentro de nós

Eu sou um real apaixonado e viciado por séries e por musicais já faz algum tempo. Com certeza não teria como não me apaixonar após assistir os dois primeiros episódios da série musical Glee. onde são interpretadas Take a Bow de Rihanna, Rehab de Amy Winehouse, I Kissed a Girl, de Katy Perry, entre outros sucessos atuais e dos anos 80 E 90. A série conta a história de um professor de espanhol, Will, que contra todos os desafios decide tentar salvar o grupo Glee, o coral da escola. E com isso, ajudar um grupo de alunos rejeitados a encontrar seu verdadeiro potencial. Entre eles estão Kurt, um afeminado com seu estilo fashion; Mecedes, que tem uma voz incrível; Artie, um nerd cadeirante; e Tina, uma rockeira punk com mechas azuis no cabelo. E os dois principais astros do grupo Glee: Rachel, uma garota excluída no colégio, filha de um casal gay e que sonha em ser uma estrela; e Finn, o zagueiro super popular do time de futebol americano que aprende a ser ele mesmo no grupo Glee. O professor Will fará de tudo para que o grupo musical seja um sucesso e para isso conta com a ajuda da apaixonada professora Emma, mas terá que enfrentar a treinadora do time de torcidas, Sue (uma das melhores personagens da série), e até mesmo sua esposa.
Glee, como todo bom musical, consegue nos animar e nos fazer ter vontade de sair por aí cantando, ainda mais que a grande maioria das músicas são conhecidas nossas. E como uma boa série, nos faz ter ânsia pelo próximo episódio, eu por exemplo assisti apenas os dois primeiros mas estou contando as horas para poder assistir os próximos.
A série mostra o ambicioso perdedor que existe dentro de todos nós. Em uma fala no primeiro episódio, Finn, fala a seu "amigo" Puck assim: "Não entende? Somos todos perdedores, todos nessa escola, todos nesse cidade...Não tenho medo de ser chamado de perdedor, porque eu consigo aceitar que sou um. Estou com medo de sair de algo que me fez realmente feliz pela primeira vez nessa minha vida triste." Realmente todos nós somos perdedores e fracos em algum momento da vida! Finn retrata a coragem de mostrar seu verdadeiro "eu", e todos os personagens do grupo Glee, junto com o professor Will, mostram que na verdade o que nunca devemos deixar de ser é um ambicioso perdedor. Aquele que quer acertar na próxima, aquele que quer lutar, aquele que enfrenta os medos, aquele que quer ser quem realmente é...
Falando sobre os números musicais da série os meus destaques são, no primeiro episódio a ótima apresentação de Rehab e o ótimo final com Don´t Stop Believin. No segundo episódio, é claro que a melhor cena fica com a hilária apresentação de Push It (fazia tempo que não ria tanto em uma série) e com um ótimo final novamente com Rachel cantando Take a Bow. E fica assim um trecho traduzido de Don´t Stop Believin, música que encerrou em grande estilo o primeiro episódio, pois diz muita coisa tanto na série, quanto na vida!


"Alguns vão vencer, outros vão perder
Alguns nasceram para cantar blues
Ó, o filme nunca acaba
É assim sempre e sempre e sempre e sempre

Não deixe de acreditar
Segure-se naquela sensação
Pessoas da rua da luz"






http://www.youtube.com/watch?v=TUZwdbeS2mM

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Paradigma

Os travesseiros são corajosos.
Os sapatos são covardes. Fato.


Juliana Flores

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Essas Linhas...

Escrevo agora nessas linhas, linhas tortas. Como já diriam alguns: "Deus escreve certo por linhas tortas!" Sou eu deus? Escrevo eu certo? Não poderia ter eu me questionado com perguntas mais intrigantes! Quiçá na próxima primavera passo eu a escrever em linhas retas. Mas deixaria eu então de escrever certo? Ou deixaria eu de ser deus? Logo eu que tantas vezes quis ser deus, quis escrever certo e andar por linhas retas, mas essas três coisas são possíveis? E que significado tem essas minhas linhas? E significado tem significado? E o amor tem significado? E a vida tem significado? Ah o amor! Ah a vida! E Deus, o certo, e as linhas tortas têm significado? Eu tenho significado? Ou talvez meu significado se confunda com o de todos os outros, de todas as canções, de todos os romances, de todos os filmes, de toda a arte, de toda escrita, de toda a vida, de todos amores, de Deus...E quem sou então? Sou realizações ou sonhos? Amores ou desamores? A escrita certa ou a linha torta? Deus ou mortal? Eu sou tudo e sou nada, mas também sou nada e tudo,mas continuo sendo nada...E Deus? Continua escrevendo certo por linhas tortas. E eu? Continuo escrevendo errado. Mas será errado? O que é errado? O errado tem significado? Ele é a escrita certa e a linha torta, ele é os amores, ele sou eu, mas eu sou ele? E Deus? E as linhas? Estão nos meus sonhos! Isso é um sonho? Não sei, lhe pergunto também pois para mim imaginário e real se confundem, dito e o não dito também, até mesmo a escrita certa e a linha torta! Mas Deus continua escrevendo certo em linhas tortas, e minha vida é sua fiel companheira.




Bruno Silvano